Moradores do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, levaram pelo menos 74 corpos para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, uma das principais da região, ao longo da madrugada desta quarta-feira (29), o dia seguinte à operação mais letal da história do RJ.
Desde terça (28), houve ao menos 132 mortes:
- O governo havia informado em balanço na terça que havia 64 mortos, sendo que 4 eram policiais civis e militares.
- Mas, na manhã desta quarta, o governador Cláudio Castro (PL-RJ) só confirmou oficialmente 58 mortos, sendo que eram 54 criminosos. Ele não esclareceu por que o número do balanço de ontem foi alterado.
- Já os corpos levados à praça na Penha nesta quarta não constavam nos números oficiais, informou o secretário da PM, coronel Marcelo de Menezes Nogueira. Segundo os moradores, são mais 74 mortos.
Haverá uma perícia para ver se há relação entre essas mortes e a operação.

Corpos são levados para praça na Penha — Foto: Betinho Casas Novas/g1
Todos os corpos eram de homens, e estavam na área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde se concentraram os confrontos entre as forças de segurança e traficantes.
O governador Cláudio Castro disse considerar que a ação foi um “sucesso” e que só os quatro policiais mortos são “vítimas”.
O governador não comentou os corpos encontrados pelos moradores na mata. “A nossa contabilidade conta a partir do momento que os corpos entram no IML. A Polícia Civil tem a responsabilidade enorme de identificar quem eram aquelas pessoas. Eu não posso fazer balanço antes de todos entrarem”, afirmou.
Reconhecimento na praça
O ativista Raull Santiago é um dos que ajudaram a retirar os corpos da mata. “Em 36 anos de favela, passando por várias operações e chacinas, eu nunca vi nada parecido com o que estou vendo hoje. É algo novo. Brutal e violento num nível desconhecido”, disse.
Segundo informações, o objetivo do traslado dos corpos até a praça foi facilitar o reconhecimento por parentes. Moradores os deixaram sem camisa para agilizar esse processo, a fim de deixar à mostra tatuagens, cicatrizes e marcas de nascença.
Muitos dos mortos tinham feridas a bala – alguns estavam com o rosto desfigurado. Um tinha sido decapitado, mas não se sabia como.
Depois, a Polícia Civil informou que o atendimento às famílias para o reconhecimento oficial ocorre no prédio do Detran localizado ao lado do Instituto Médico-Legal (IML) do Centro do Rio, a partir das 8h.
Nesse período, o acesso ao IML está restrito à Polícia Civil e ao Ministério Público, que realizam os exames necessários. As demais necropsias, sem relação com a operação, serão feitas no IML de Niterói.
Fonte: G1