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A vida sobre duas rodas: casal são-mateuense completa um ano pedalando pela América do Sul

🚴‍♂️🌎 De São Mateus do Sul ao fim do mundo (e além): casal completa 365 dias viajando de bicicleta e se prepara para nova etapa rumo ao Alasca

21 de maio de 2025 - Atualizado há 17 minutos atrás
7 minutos de leitura

Por P97

A vida sobre duas rodas: casal são-mateuense completa um ano pedalando pela América do Sul

Foto: Arquivo pessoal / P97

Neste mês de maio de 2025, o casal Jonas de Paula e Silva e Bruna Pionoski Cardoso, naturais de São Mateus do Sul (PR), completou um ano viajando de bicicleta pela América do Sul, mais precisamente no dia 13. Ao longo de mais de 10 mil quilômetros pedalados, eles passaram por cinco países e acumulam histórias singulares, desafios extremos e encontros que marcaram suas vidas. Confira essa entrevista exclusiva ao Portal P97 e a Rádio Cultura Sul.

Do sonho à partida: quando a bicicleta virou estilo de vida

A ideia de sair pelo mundo pedalando não nasceu de um impulso repentino. Jonas e Bruna explicam que tudo foi sendo moldado ao longo dos anos, a partir de pequenos hábitos e desejos que foram se fortalecendo com o tempo.

— “Sempre falávamos: um dia vamos, quando nos aposentarmos, vamos. Mas aí vieram a pandemia, mudanças profissionais e a perda de pessoas próximas, que fizeram a gente refletir sobre não adiar mais os nossos sonhos”, contou Jonas.

Foi essa reflexão que os fez trocar o “momento ideal” pela decisão de partir. Inicialmente, a bicicleta nem fazia parte do plano, mas acabou se revelando o meio ideal para viverem uma jornada mais conectada com a paisagem, as pessoas e o presente.

Climas extremos e adaptações: o corpo a serviço da resistência

A realidade na estrada, porém, vai muito além das paisagens

Foto: Arquivo pessoal

deslumbrantes. Entre os maiores desafios enfrentados, o clima ocupa lugar central — com episódios de temperaturas extremas que testaram os limites físicos e psicológicos do casal.

— “Foram 25 dias muito difíceis. Estávamos acostumados com o frio da Patagônia, e de repente, esse calor extremo nos atingiu”, relembrou Bruna, sobre o trecho argentino onde os termômetros chegaram a 50 °C. “No frio, você se protege com roupas, mas no calor… não tem muito o que fazer.”

Apesar disso, o casal se adaptou bem à rotina. O estresse térmico e a exposição contínua à natureza seguem como os principais obstáculos.

Encontros inesquecíveis: da estação abandonada à partilha com um pastor de lhamas

Na Bolívia, país considerado por eles como o mais diferente culturalmente, uma experiência os marcou profundamente. Durante um acampamento em uma estação de trem abandonada, foram surpreendidos por um pastor de lhamas, que se impressionou com a estrutura do casal.

— “Ele tinha celular, mas precisava ir até a casa do vizinho para carregar. Quando viu nosso painel solar, ficou encantado. Foi um choque perceber que, mesmo tão perto do Brasil, a realidade pode ser tão diferente”, contou Bruna.

O encontro terminou com um café da manhã compartilhado ao sol — uma síntese do que, para eles, é o verdadeiro espírito da viagem.

Planos e expectativas: rumo ao Alasca, com paradas entre Andes e florestas

Atualmente em La Paz, na Bolívia, Jonas e Bruna se preparam para seguir rumo ao Peru. A rota não é fixa, mas o objetivo final é claro: chegar ao Alasca entre junho e setembro de 2026 ou 2027.

— “É uma das regiões mais frias do planeta, habitada e banhada pelo Oceano Ártico. Temos que calcular bem o tempo, porque são mais de 2.500 km só no trecho entre o Canadá e o Alasca”, explicou Jonas.

Foto: Arquivo Pessoal

Além do desafio logístico, a expectativa com o Peru é alta — tanto pela cultura quanto pelo esforço físico necessário para atravessar os Andes em bicicleta.

Do “fim do mundo” ao mundo real: a experiência além de Ushuaia

Embora Ushuaia seja conhecido como o ponto mais ao sul acessível por terra, o casal decidiu ir além. “Queríamos ir até onde fosse realmente possível chegar. Descobrimos a Ilha Navarino, no Chile, onde está a  Baía Windhond perto do lendário Cabo Hornos”, contou Bruna.

A jornada até lá exigiu esforço extra: embarcar com as bicicletas, caminhar três dias em trilhas e enfrentar ventos de até 150 km/h. “Estar ali foi algo surreal”, disse Jonas. “É uma área marcada por naufrágios e mudanças climáticas repentinas. Um lugar cheio de misticismo.”

A estrada como mestra: aprendizados de um ano pedalando

Com um ano na estrada, o casal carrega uma bagagem de aprendizados que vai muito além dos quilômetros percorridos.

Sobre o relacionamento: o convívio diário e intenso trouxe à tona hábitos e diferenças antes imperceptíveis. “Já acordo falando, o Jonas é mais quieto. Só percebemos isso viajando 24h por dia juntos”, brincou Bruna.

Sobre a flexibilidade: mudanças de rota, como a decisão de pegar um avião da Puntarias até Santiago no Chile, foram necessárias para evitar épocas chuvosas ou incêndios na Argentina. “Seguir um plano rígido pode gerar frustração”, alertou Jonas.

Sobre resiliência: enfrentaram ventos contrários, chuva por oito horas seguidas na Cordilheira e, mesmo assim, não cogitaram desistir. “Nunca tome uma decisão em um dia ruim”, é a frase que repetem como mantra.

Equipamentos, julgamentos e a solidariedade da estrada

A escolha do que levar também fez diferença. O saco de dormir foi essencial para enfrentar temperaturas de até -14 °C, e a barraca, item indispensável. “Vimos viajantes passando perrengue por falta de preparo técnico”, relatou Bruna.

Foto: Arquivo pessoal

Sobre preconceitos, destacam que nunca foram hostilizados diretamente, mas já sentiram olhares de julgamento, sobretudo em áreas turísticas com viés elitista. Curiosamente, os episódios mais marcantes partiram de brasileiros fora do Brasil.

Mesmo assim, a solidariedade de desconhecidos é o que prevalece. Uma frase os guia: “A estrada provém” — como no dia em que encontraram alimentos abandonados e conseguiram estender a permanência em uma área isolada.

Viva os próprios sonhos

Ao final da entrevista, Jonas e Bruna deixaram um recado:

— “Se tem uma mensagem que podemos deixar, é: se for seu sonho, vá atrás. Mesmo que pareça difícil. Mesmo que demore. Mesmo que seja diferente do que todo mundo faz. A vida é muito maior do que o que a gente vê todo dia. E vale a pena se permitir descobrir isso.”

A jornada segue em duas rodas, agora rumo ao norte do continente, com mais paisagens, histórias e aprendizados por vir. Quem quiser acompanhar essa aventura pode seguir o perfil @foradatribo.oficial no Instagram, onde o casal compartilha imagens, relatos e reflexões de uma viagem que inspira milhares de pessoas.

 

Essa entrevista completa em vídeo estará disponível nos próximos dias no nosso canal no Youtube 

 

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