O fim de semana que seria de descanso e alegria terminou em tragédia para Maria Vitória Gomes de Souza, de 23 anos. A jovem, moradora de Curitiba, perdeu a filha única, Zoe de Souza Fonseca, de apenas 1 ano e 4 meses, na madrugada de domingo (5), após o agravamento repentino do estado de saúde da criança em Matinhos, no Litoral do Paraná. A família denuncia que houve negligência no atendimento médico da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do município.
Segundo relato, Maria Vitória viajou com a filha para passar o fim de semana na casa de uma amiga e aproveitar o dia de sol na praia. Na noite de sábado (4), Zoe apresentou febre alta e vômitos. Levadas à UPA de Matinhos por volta das 20h, mãe e filha foram atendidas, mas a família afirma que a médica plantonista apenas prescreveu remédios para febre e enjoo, sem realizar exames mais detalhados.
“Quando chamaram a gente para o atendimento, a médica nem levantou da cadeira. Perguntou os sintomas, aplicou uma injeção em cada perninha e disse que era um vírus, que era para irmos para casa e manter a hidratação”, relatou a mãe, emocionada.
Durante a madrugada, o quadro de Zoe piorou rapidamente. A menina voltou a ter febre alta, apresentou manchas escuras pelo corpo e começou a delirar. “Liguei várias vezes para o Samu, mas disseram que não havia ambulância disponível. Então conseguimos um carro por aplicativo e corremos para a UPA”, contou a amiga da família, identificada como Chris.
Na segunda passagem pela unidade, os profissionais perceberam a gravidade da situação: a saturação da criança estaria em torno de 33%, e o coração batia muito fraco. Zoe recebeu oxigênio e foi encaminhada de ambulância ao Hospital Regional do Litoral (HRL), em Paranaguá. No trajeto e já no hospital, a bebê sofreu duas paradas respiratórias e, apesar das tentativas de reanimação, não resistiu.
De acordo com o relato da família, médicos do HRL teriam informado que o caso era compatível com meningite e que a criança poderia ter sido entubada ainda na UPA de Matinhos, o que, segundo eles, aumentaria as chances de sobrevivência. “Minha filha não tinha nenhuma mancha quando chegou lá pela primeira vez. Ela podia ter sido salva. Como é que uma criança com 40 graus de febre e vômito é mandada embora com um ‘é só um vírus’?”, desabafou Maria Vitória.
Zoe foi sepultada na tarde de segunda-feira (6), em Curitiba.
Nota da Prefeitura de Matinhos
A Administração Municipal de Matinhos se manifestou por meio de nota assinada pelo médico Diogo de França Souza Camargo, responsável técnico pela UPA. No documento, ele afirma que “todas as condutas foram adotadas conforme os protocolos vigentes de atendimento em urgência e emergência pediátrica”.
Segundo o médico, Zoe foi atendida cerca de 30 minutos após a triagem e apresentava “quadro compatível com condições clínicas leves”, sendo tratada de forma sintomática e liberada após estabilização da temperatura.
A nota acrescenta ainda que, no retorno da família à UPA na manhã seguinte, “a criança apresentava rebaixamento do nível de consciência, hipoatividade e lesões cutâneas compatíveis com púrpura, configurando quadro sugestivo de agravamento infeccioso agudo”.
O texto reforça que no primeiro atendimento “não havia indícios clínicos de gravidade” e que os familiares foram orientados a retornar em caso de piora.
Investigação
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) deve se manifestar para confirmar se o óbito foi causado por meningite ou não e saber o posicionamento oficial do Hospital Regional do Litoral sobre o caso.
Enquanto isso, a dor e a revolta tomam conta da família. “Me disseram que era só um vírus, e eu saí com minha filha morta, enrolada num pano branco”, lamentou Maria Vitória.
Com informações de JB Litoral.