O Paraná registra um aumento significativo no número de casos de esporotricose, tanto em humanos quanto em animais, desde a implementação da vigilância epidemiológica obrigatória em 2022. No ano passado mais de 4 mil gatos foram notificados com a doença – 20% a mais em relação ao ano anterior.
A esporotricose é uma doença causada por um fungo do gênero Sporothrix spp, que provoca lesões cutâneas e úlceras em gatos, tanto domesticados quanto os de rua, podendo ser transmitida para outros animais como cães e inclusive, aos humanos. Em 2024 a Secretaria de Saúde do Paraná recebeu a notificação de 932 casos de esporotricose em humanos, aumento de 55% em relação à 2023.
A Secretaria de Estado da Saúde (SESA) do Paraná reforça a importância da notificação e das medidas preventivas para conter a disseminação da doença.
Os gatos de rua são de difícil controle e disseminam de forma rápida a doença. “É um grave problema de saúde pública. Para se ter uma ideia, o fungo já se tropicalizou e gerou uma espécie 100% nacional, a Sporothrix brasiliensis, que é muito mais transmissível e já está se espalhando para fora do Brasil”, explica o professor titular de medicina-veterinária da UNIP, Carlos Brunner.
Brunner é um dos maiores especialistas no uso de pulsos elétricos no tratamento de doenças. Ele é precursor da eletroquimioterapia no Brasil e um dos fundadores da Akko Health Devices, desenvolvedora de soluções em tratamentos com eletroquimioterapia para medicina humana e medicina veterinária.
Há quase duas décadas, ele estuda os efeitos da técnica no tratamento de diversas doenças, entre elas a esporotricose, e desenvolveu um equipamento inédito que está sendo usado em clínicas veterinárias e em Universidades, caso da PUC de Curitiba e da Fiocruz, no Rio de Janeiro.
Gatos são as principais vítimas da esporotricose
“A esporotricose é infecciosa e agressiva. Os gatos são as principais vítimas e os potenciais transmissores. Ela causa lesões cutâneas que podem começar como pequenos caroços (nódulos) e evoluir para úlceras abertas e com secreção. Essas feridas não cicatrizam facilmente e costumam espalhar-se pelo corpo. O tratamento com antifúngico é demorado e muitas vezes não traz os resultados esperados”, explica Brunner.
A transmissão da esporotricose para humanos é feita por meio do contato com o animal infectado. Os arranhões são a principal porta de entrada. A lesão ocorre geralmente nas mãos, braços, rosto ou pernas e começa como um nódulo avermelhado e firme. Depois, evolui para uma ferida ulcerada, que pode drenar pus. Ela não causa dor, mas demora para cicatrizar. O problema é que a infecção se espalha pelos vasos linfáticos e quando encontra uma pessoa com o sistema imunológico comprometido (caso dos imunossuprimidos) ela pode atingir ossos, pulmões, olhos e até o sistema nervoso central, levando à morte.
Nova técnica de tratamento
O fungo da esporotricose ataca as células da pele, se reproduzindo no tecido e matando essas células. Com a técnica inédita, são criados mais poros na pele, tecnicamente chamados de “neoformados”.
“Como não usamos medicação, as células da pele do gato permanecem vivas, porque os poros se formam e se fecham. Já a estrutura celular dos fungos é diferente, então os poros se formam e não se fecham mais, matando o fungo. Como trabalho com eletroporação há 18 anos pensei na possibilidade de provocar a formação dos poros irreversíveis nos fungos, devido suas características celulares. Ou seja, matando o fungo e preservando o tecido normal do gato”, explica o prof. Brunner.
A nova técnica está trazendo esperança para os animais e tutores já que exige menor número de manipulações do gato, menor custo, boa eficácia em animais resistentes à terapia convencional e redução do período de tratamento.
“O fato de termos animais não domiciliados ou que têm acesso à rua reforça a necessidade de um tratamento assertivo e rápido. Os gatos que são agressivos, que têm pouco contato com pessoas, os chamados “ferais”, teriam que ser medicados diariamente por meses, o que é praticamente inviável. Com essa técnica eles podem ser recolhidos, tratados com uma manipulação apenas, ao longo de 3 meses, e estariam 100% curados”, conclui Brunner.
A eutanásia não pode ser considerada uma solução para o controle da doença. Os gatos precisam ser tratados e não podem ser vistos como culpados pela epidemia que estamos vivendo.
Sobre o professor Carlos Brunner
Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo USP, mestre em Clínica Médica e doutor em Anatomia dos Animais Domésticos e Selvagens pela USP. Professor titular na Universidade Paulista UNIP. Membro da diretoria da ABROVET. Membro da ISEBTT – The Internacional Society for Electroporation Based Thecnologies and Treatments. Pioneiro no uso clínico de etroquimioterapia no Brasil.
Fonte: Bem Paraná