O trecho de 85 quilômetros da BR-476 que liga União da Vitória a São Mateus do Sul, no sul do Paraná, vem registrando alta na quantidade de acidentes com morte.
Desde o fim de dezembro de 2024, em pouco mais de três meses, pelo menos três grandes batidas frontais foram registradas no local, causando a morte de 11 pessoas. Relembre os casos mais abaixo.
Um levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF), feito a pedido do g1, mostra que o número de mortos nos últimos meses se aproxima do registrado no trecho em todo o ano 2023, quando 13 pessoas morreram em acidentes na estrada, e supera o total de 2024, que teve oito mortes. Conforme a corporação, o levantamento só considera mortes constatadas nos locais das batidas.
Os dados da PRF revelam que também cresceu o número de pessoas feridas em acidentes na estrada: foi de 85 em 2023 para 100 em 2024. Em 2025, já são pelo menos 16.
ACIDENTES NA BR-476
2023 | 2024 | 2025 (até o começo de abril) | |
ACIDENTES GERAIS | 75 | 84 | 15 |
FERIDOS | 85 | 100 | 16 |
MORTOS | 13 | 8 | 8 |
A reincidência de acidentes graves na estrada tem provocado reações da população, que nas redes sociais tem chamado o trecho de “rodovia da morte”.
Além disso, moradores e trabalhadores da região questionam a infraestrutura da rodovia.
Entre os problemas apontados pela população estão as más condições da rodovia, como buracos e imperfeições no asfalto, além de falta de sinalização em alguns pontos.
O modelo da via, que tem pistas simples e curvilíneas, também é questionado. Isso porque, em média, o trecho recebe um fluxo de 4,2 mil veículos diariamente, de acordo com estimativa do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
Ao g1, o órgão disse que não há previsão de duplicação ou implantação de terceira faixa no trecho.
O site do DNIT reconhece que a BR-476 é de “extrema relevância” para a logística entre os estados do Sul do país e do Centro-Oeste.
“A rodovia é fundamental para o transporte de carga, concentrando o escoamento da produção de frango e madeira do Paraná e Santa Catarina, além do arroz do Rio Grande do Sul, rumo ao Mato Grosso do Sul”, afirma o órgão federal.
Entretanto, o trecho que fica entre União da Vitória e São Mateus do Sul ficou, mais uma vez, de fora dos novos contratos de concessão de rodovias do Paraná.
Em 2019, o Governo do Paraná chegou a divulgar que o Ministério da Infraestrutura iria pedagiar a estrada. A promessa era que a empresa concessionária iria duplicar a rodovia desde União da Vitória até Curitiba. A concessão, no entanto, não saiu do papel.
Por isso, o trecho continua a ser administrado pelo DNIT.
Obras de recuperação
Em meados de janeiro de 2025, o DNIT autorizou o início de “obras de recuperação e manutenção” contratadas para o trecho. Com previsão de investimentos de aproximadamente R$ 83 milhões, os trabalhos devem se estender por 81 quilômetros entre os dois municípios.
O DNIT afirma que as obras foram iniciadas ainda em janeiro e que, após a restauração, deve fazer a manutenção da rodovia pelos próximos cinco anos.
“A BR-476/PR tem trânsito pesado e cada vez mais intenso nesse trecho. Essa recuperação atende a uma mobilização de prefeitos e lideranças locais. Além disso, as obras devem melhorar a qualidade da rodovia e auxiliar na redução de acidentes”, afirmou o superintendente regional do DNIT no Paraná, Hélio Gomes.
Na segunda-feira (7), o DNIT informou que, no dia, estavam sendo realizados serviços de “microfresagem e remendos no pavimento”.
Ao g1, o órgão federal listou quais são as obras previstas no contrato:
- Na pista de rolamento: serviços de remendo profundo, fresagem contínua e descontínua com recomposição em espessuras de 8 cm e 5 cm, além de microrevestimento e reperfilagem;
- No acostamento: microrrevestimento, reperfilagem e fresagem;
- Na drenagem: construção de meios-fios, sarjetas, entradas e descidas d’água, além da implantação e recomposição de drenos para escoamento de águas pluviais;
- Em Obras de Arte Especiais (OAE): recomposição de guarda-corpos e enrocamentos e manutenção da sinalização horizontal e vertical ao longo de todo o segmento.
O que dizem as autoridades
Em nota, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) destaca que o trecho mencionado não faz parte de uma concessão federal de rodovias – e, portanto, está no escopo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
O DNIT diz que acompanha “com atenção” o número de acidentes nas rodovias sob sua responsabilidade.
“As ocorrências são analisadas para embasar medidas corretivas e preventivas para a segurança viária e a melhoria da fluidez do tráfego”, afirma.
O g1 também procurou a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (SEIL) e perguntou se a pasta está a par do aumento na quantidade de acidentes no trecho e se pretende pleitear outras obras para a rodovia.
Em nota, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-PR), órgão que integra a secretaria, ressaltou que a BR-476 é administrada pelo DNIT e disse que a duplicação da rodovia foi indicada como prioridade pelo Governo do Paraná no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, desde agosto de 2023.
BR-476 registrou pelo menos 11 mortes em menos de quatro meses

Foto: VGeo/Dnit
De dezembro de 2024 até hoje, graves acidentes foram registrados na estrada.
Um deles foi na noite de Natal, quando três socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e um paciente morreram após uma batida frontal entre uma ambulância e um caminhão no KM 312.
Duas semanas depois, no dia 8 de janeiro, dois caminhoneiros morreram após também baterem de frente no KM 325 da rodovia.
O acidente fatal mais recente também foi o com mais vítimas.
Em 3 de abril, cinco trabalhadores de uma empresa que atua na construção de projetos de energia morreram após um acidente entre três caminhões. Um dos veículos bateu na traseira de outro, que atingiu um caminhão que trafegava no sentido contrário.
Fonte: g1