Uma vida de memórias e superação: conheça a história do paranaense de 103 anos, sobrevivente da guerra
21 de junho de 2024
- Atualizado há 5 meses atrás
9 minutos de leitura
Por Redação 97
Foto e arte: Portal Cultura Sul e arquivo da família
Chegar aos 100 anos é mais do que uma marca de idade; é um testemunho vivo de uma jornada longa e rica. Imaginar o que uma pessoa viu, experimentou e aprendeu ao longo de um século é contemplar um vasto oceano de experiências.
Só de pensar nas mudanças ao longo do tempo, desde as primeiras memórias na infância até os dias atuais, uma pessoa centenária viu o mundo se transformar de maneiras inimagináveis. Testemunhou avanços tecnológicos que revolucionaram a sociedade, como o surgimento da eletricidade, o desenvolvimento dos computadores e a expansão da internet. Assistiu ou até participou de guerras que mudaram o destino de nações. Presenciou a evolução dos direitos humanos e as lutas por igualdade de gênero, raça e orientação sexual.
Além disso, uma pessoa que alcança os 100 anos acumulou uma riqueza de histórias pessoais. Viveu amores intensos, enfrentou perdas dolorosas, construiu família e amizades duradouras. Viu filhos, netos, bisnetos e até trinetos nascerem e crescerem. Experimentou diferentes culturas, sabores e tradições. Uma pessoa centenária viveu muito, e com isso, tem uma sabedoria acumulada, compreende o valor da paciência, da resiliência e da gratidão.
Aprendeu a importância de valorizar as relações interpessoais, entendendo que são essenciais para uma vida plena e feliz, como confirmado pela equipe do Portal Cultura Sul durante uma entrevista especial com o centenário Orlandino Bueno da Silva que ao longo de seus 103 anos, destacou que viver em paz é essencial.
História inspiradora
Nascido em 8 de setembro de 1920 em Palmeira, Paraná, Orlandino Bueno da Silva é uma testemunha viva de muitos acontecimentos históricos. Hoje, aos 103 anos, ele vive em São João do Triunfo há mais de seis décadas, ao lado de sua esposa, levando uma vida tranquila e rotineira. Apesar da fragilidade física que o acompanha na idade avançada, Orlandino ainda consegue movimentar-se pela casa com auxílio. Embora sua visão e audição não sejam mais as mesmas, ele consegue conversar e se expressar muito bem. Sua memória é notável, repleta de informações e detalhes que ele compartilhou em uma entrevista exclusiva ao Portal Cultura Sul, revelando experiências marcantes ao longo de seus quase 104 anos de vida.
Orlandino cresceu em Palmeira, onde passou sua infância e juventude. Filho de uma numerosa família com dezenove irmãos, desde cedo aprendeu o valor da família e da união. Ele contou que seus pais morreram de febre amarela. “Minha família era muito grande. Eu era ainda pequeno quando perdi meus pais para aquela praga. Muita gente morreu; a pessoa estava boa hoje, e no outro dia, já estava de cama. Era muito rápido”, relembrou ele.
Participação na Segunda Guerra Mundial
Com dezoito anos, Orlandino foi convocado para servir nas forças armadas durante a Segunda Guerra Mundial. Ele foi enviado para a Itália, onde passou nove meses em serviço militar e dois anos no país até conseguir retornar ao Brasil.
“Muitos foram para a guerra, mas poucos voltaram. Foi difícil; perdi muitos amigos. Eu andava no campo de batalha e encontrava meus amigos caídos, mortos. Era tudo muito triste. Eu rezava e pedia a Deus que, se fosse para eu morrer ali no campo de batalha, tudo bem, mas que eu queria voltar para minha família”, lembrou. Orlandino contou ainda que, além das perdas de amigos e colegas no campo de batalha, na volta para o Brasil perdeu outro amigo que teria se jogado no mar, algo que lhe marcou. Mesmo diante das dificuldades e tristezas, ele disse que sempre pedia a Deus para cuidar dele e lhe dar a oportunidade de voltar para o Brasil.
Mesmo com a fala já mais arrastada e falha, por vários momentos durante a entrevista, o ex-combatente relembrou de sua juventude, onde sempre teve muitos amigos e pretendentes. “Eu sempre me dei bem com todo mundo. Todos me queriam muito bem, e eu tratava bem todo mundo. Por isso, eu tinha muitas pretendentes; elas me queriam muito bem”, relembrou. Diante do assunto, questionamos sobre as mulheres italianas, se conheceu alguma durante a guerra, e ele prontamente afirmou. “São muito bonitas; tinha uma que eu queria muito bem”, detalhou, relembrando os amores do passado.
Vida após a guerra
Após o término da guerra, Orlandino retornou ao Brasil, trazendo consigo memórias e experiências que moldaram sua visão de mundo. O ex-combatente relatou que ao sair do Brasil para ir à guerra, deixou alguém esperando por ele, em um casamento tratado, algo comum na época, e cumpriu sua promessa ao retornar.
Ao chegar ao Brasil, ele se casou com a jovem que o esperava e se estabeleceu em São João do Triunfo, onde construiu sua família e dedicou-se à agricultura. O casal teve sete filhos, mas a esposa faleceu por complicações no parto do sétimo. Mais tarde, ele se casou novamente e teve três filhos, embora um infelizmente tenha falecido.
Seu segundo casamento não durou muito, e outros amores surgiram até que encontrou sua companheira atual, com quem compartilha os últimos 38 anos. No entanto, durante a entrevista, várias vezes fez questão de frisar: “Sempre deixei claro que tinha filhos e que eles seriam minha prioridade. Sempre quis ter minha família, e eles sempre estiveram em primeiro lugar na minha vida. Nunca abriria mão deles.”
Segredo da longevidade
Durante a conversa, Orlandino disse várias vezes que sempre teve amigos e sempre se deu bem com todos à sua volta, e isso sempre foi muito importante para ele, algo que o ajudou a chegar aos mais de 100 anos e estar em paz. “Sempre me dei bem com todos. É importante viver bem, não ter inimigos”, frisou.
Atualmente, Orlandino vive em Água Comprida, localidade do interior de São João do Triunfo, cercado pelo carinho de sua família. Apesar da idade avançada, ele mantém sua lucidez e gosta de compartilhar suas histórias.
Festa à vista
Durante a entrevista, Orlandino mostrou-se não apenas receptivo, mas também curioso, fazendo perguntas à equipe do Portal Cultura Sul. Ficou combinado que eles retornarão no dia 8 de setembro para celebrar com Orlandino seus 104 anos com um bolo e continuar registrando sua história inspiradora de um sobrevivente da guerra, um dos cinco que ainda estão vivos no Paraná. Aos 103 anos, sua vida é um testemunho da história do Paraná e do Brasil, e suas memórias continuam a inspirar todos que têm a sorte de cruzar seu caminho.
Chegar aos 100 anos é, portanto, uma celebração não apenas da longevidade, mas da sabedoria, da resiliência e da capacidade humana de adaptação e aprendizado ao longo da vida. É um lembrete inspirador de que, apesar dos desafios e das adversidades, cada momento vivido é uma oportunidade para crescer, aprender e deixar um legado para as gerações futuras.
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