A indústria Millpar, que fabrica produtos à base de madeira e possui unidades em Guarapuava e Quedas do Iguaçu, no Paraná, decidiu suspender a própria produção devido ao anúncio do governo norte-americano sobre a aplicação de novas tarifas sobre produtos brasileiros.
Com isso, 720 dos 1,1 mil funcionários da empresa foram colocados em férias coletivas por 30 dias. Todos são de setores atrelados à manufatura de molduras para exportação, e começaram a ser dispensados temporariamente em 14 de julho.
Inicialmente 640 trabalhadores seriam afetados, mas com a proximidade do início do tarifaço a medida foi estendida para 65% dos colaboradores.
A Millpar produz itens à base de madeira, como molduras, rodapés, forros, painéis para embalagens, componentes para escadas, janelas e móveis, entre outros. A assessoria da indústria afirma que a produção é direcionada para exportação, sendo os EUA o maior mercado consumidor.
Um decreto assinado pelo presidente Donald Trump vai elevar para 50% a alíquota sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos a partir desta quarta-feira (6).
O documento também traz uma lista de 700 exceções, que beneficiam segmentos estratégicos como o aeronáutico, o energético e parte do agronegócio -, mas não incluem os produtos fabricados pela Millpar.
“A Millpar vem adotando medidas estratégicas para preservar a companhia e garantir o avanço sustentável de suas operações a longo prazo. […] Neste momento, a operação da empresa está parada, com exceção das áreas administrativas”, informa.
O anúncio do tarifaço de Trump preocupou diversas fábricas paranaenses, provocando grandes impactos principalmente em cidades pequenas – cujas economias dependem delas.
Entre as cidades que tiveram trabalhadores afetados, estão, além de Guarapuava, Jaguariaíva, Telêmaco Borba e Ventania.
De acordo com dados divulgados pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), em 2024, o estado exportou cerca de US$ 1,58 bilhão aos EUA.
A maior parte dessas vendas, totalizando US$ 1,19 bilhão, foi de produtos dos setores da madeira, móveis, carne, café e mate, pescados, couro e calçados, mel, metalmecânico, siderurgia, cerâmica, papel e celulose e sucos. Juntos, esses segmentos são responsáveis por mais de 380 mil empregos diretos e 240 mil indiretos no estado.
De acordo com o Governo do Paraná, de janeiro a junho de 2025 o estado já totalizou US$ 735 milhões em exportações ao país norte-americano.
De acordo com estimativas da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre), o Paraná é um dos principais exportadores de produtos de madeira para os Estados Unidos.
O setor madeireiro gera cerca de 400 mil empregos diretos e indiretos no estado, considerando os trabalhadores florestais e os que atuam em indústrias do segmento, aponta a associação.
A entidade também afirma que, em 2024, o Paraná exportou mais de US$ 627 milhões em produtos florestais. Entre os principais, estão molduras de madeira, paineis compensados, madeira cerrada e diferentes tipos de celulose, por exemplo.
Recentemente, a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), entidade representativa dos setores de madeira processada e de base florestal, emitiu um nota ressaltando que a maioria dos produtos do setor madeireiro não entrou na lista de isenções do tarifaço de Trump.
“A maioria dos produtos do setor, em especial os provenientes de florestas plantadas, não foram incluídos na lista de exceções divulgada no Anexo I da medida. Dessa forma, entendemos que a tarifa adicional de 40% incidirá sobre as alíquotas recíprocas já vigentes de 10% (implementadas em 2 de abril)”, explica.
A entidade reforça que a interpretação é preliminar, uma vez que os esclarecimentos definitivos sobre os procedimentos tributários só devem ser feitos com a publicação do guia de implementação pela Customs and Border Protection (CBP), órgão responsável pela aplicação das regras aduaneiras nos EUA.
Fonte: G1