Cidadania

Brasil vai chegar a 2070 com 1,1 milhão de nascimentos a menos por ano

22 de agosto de 2024 - Atualizado há 4 meses atrás
5 minutos de leitura

Por P97

Brasil vai chegar a 2070 com 1,1 milhão de nascimentos a menos por ano

Brasil registra queda de nascimento de bebês em 2022, comparado com 2021. A queda já é registrada há cinco anos – Foto: Silvia Cozzi/Adobe Stock

Até o ano de 2070, os nascimentos de novos brasileiros devem diminuir e chegar a um patamar aproximadamente 40% menor em comparação aos dias de hoje. Para cada cem bebês que nasceram em território nacional no ano passado, serão 58 nascidos daqui quatro décadas e meia.

A projeção é do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com base em dados do Censo 2022 e do Ministério da Saúde, e ajuda a explicar a previsão de queda populacional a partir da década de 2040.

Foram registrados 3,6 milhões nascimentos no ano 2000, estatística que caiu para 2,6 milhões em 2022. A estimativa agora é que a queda de natalidade no futuro seja mais lenta, mas o Brasil deve chegar ao início da década de 2070 com 1,5 milhão de nascimentos por ano.

A estimativa do IBGE considera uma tendência, já observada nas últimas décadas, de diminuição do número de mulheres se tornam mães, assim como a quantidade de filhos em cada família. O declínio no número de nascimentos já ocorre em todas as regiões do Brasil, e deve continuar assim nas próximas décadas.

“A queda da fecundidade no Brasil ganhou força na metade da década de 1960”, disse Marla França, analista de pesquisa do IBGE. “Para se ter uma ideia, a taxa no ano de 1960 era de 6,28 filhos por mulher.”

Além de terem filhos com menos frequência e em menor quantidade, as brasileiras também devem se tornar mães cada vez mais velhas.

No início do século, a idade média das mulheres ao ter seu primeiro filho era de 25 anos. Hoje, é de 27 anos. O IBGE projeta que, em 2070, a idade média à maternidade será de 31.

O IBGE não pesquisou os motivos para a queda da natalidade, mas não costuma ser difícil identificá-los. Dedicação à carreira, estabilização da vida financeira e custo de vida estão entre os motivos citados à Folha de S.Paulo por mães que adiaram a maternidade.

“Sempre tive um pouco de receio do impacto da gravidez na minha carreira”, diz a contadora e empresária Paula Brasil, 39, que se mudou de Niterói para a capital paulista há oito anos. “Eu estava em plena ascensão, mas ainda não considerava que tinha um trabalho estável. Resolvi surfar a onda de promoções, uma atrás da outra, sem hora para entrar nem sair do trabalho.”

Aos 34, ela e o marido começaram a tentar engravidar. Há três anos, nasceu sua filha Clara. A maternidade foi o principal motivo para ela dar início a uma transição de carreira e abrir seu próprio negócio.

“Alguns colegas não entendiam que eu precisava sair para fazer ela dormir. O fato de eu sair às 20h era malvisto e isso começou a me incomodar muito”, ela conta. Hoje, ela e o marido têm dúvidas sobre ter um segundo filho por causa do impacto financeiro, especialmente o custo da educação. “Será que é mais importante ela ter um irmão, e a gente se virar para dividir tudo entre eles? Ou será que e melhor ter uma só mesmo para dar o melhor para ela?”

Já a família da psicóloga Paula Gradin, 41, demonstra como as famílias tornaram-se menos numerosas ao longo de gerações. Sua mãe, que viveu numa família de nove irmãos -quatro homens e cinco mulheres-, engravidou aos 25 de sua primeira menina. Teve três filhas, mas hoje tem só duas netas.

Gradin descobriu aos 36 que estava grávida -de Cecília, que completou quatro anos nesta quarta-feira (21). “Eu sempre projetava a gravidez para um futuro, quando minha vida profissional já estivesse mais organizada”, conta. “O mundo atual exige muito em termos profissionais, sociais, pessoais. Penso que, para ter mais filhos, eu gostaria de ter outra estrutura, para conseguir fazer tudo que eu quero no nível profissional.”

Fecundidade deve cair até 2041, e depois de recuperar

Hoje, todas as regiões brasileiras já têm taxas de fecundidade abaixo do chamado nível de reposição, que é a média de 2,1 filhos por mulher em idade fértil. Essa é a taxa necessária para que o tamanho da população se mantenha constante ao longo do tempo, desconsiderando os efeitos das migrações.

O Norte tem a maior taxa de fecundidade -que é de 1,87- mas a tendência é que essas diferenças entre regiões fiquem cada vez menores nas próximas décadas. Ou seja, os estados do Norte terão quedas mais rápidas na média de filhos por mulher, enquanto o restante do país terá um declínio mais gradual.

A projeção do IBGE aponta que o país alcançará seu patamar mais baixo de fecundidade -taxa de 1,44- no ano de 2041, mas tenha uma leve recuperação nas décadas seguintes. Essa hipótese foi calculada com base em transições demográficas que já ocorreram em outros países.

Como exemplo, foram citados os casos de Alemanha, Eslovênia e Japão. Todos esses tiveram aumentos na fecundidade anos depois de chegarem ao seu ponto mais baixo, mas isso não significa um retorno do crescimento populacional. Afinal, a quantidade de mulheres aptas a terem filhos também vai diminuir com o envelhecimento da população.

“Acho que as ambições mudaram”, diz Paula Brasil sobre a mudança geracional. “Antigamente as pessoas pensavam menos no impacto de um segundo filho, por exemplo. Era a ideia de que ‘onde come um, comem dois’, ‘casa feliz é casa cheia’ e tudo mais. As pessoas não pensam mais assim.”

Com informações Agência Brasil

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