Por, pe. Emílio Bortolini
Jesus nos fascina! Geração após geração, em todos os cantos do mundo são tocados por esse homem. Qual o seu segredo? Certamente Suas Palavras e milagres impressionam, mas, além disso, Jesus nos fascina porque Sua história é a nossa. Quando revivemos seus momentos mais importantes, nas celebrações do Tríduo Pascal (Quinta Feira Santa, Sexta Feira Santa e Sábado Santo) nos deparamos com um espelho, onde nossa vida passa perante nossos olhos.
Assim como Jesus, nós celebramos com nossos amigos e prometemos estar sempre com eles, mas às vezes eles nos traem. Nós somos presos pelas circunstâncias que não conseguimos mudar. Somos condenados injustamente ou abandonados por pessoas que não querem “sujar” suas mãos, preferindo lavá-las nas calmas águas da covardia. Também nós recebemos sobre os ombros uma cruz pesada, que, por vezes nos faz estar mais perto do chão do que gostaríamos. E, no fim, somos pregados a ela, totalmente impotentes, incapazes de sair de uma situação oposta aos anseios mais íntimos de nosso coração.
Mas, convenhamos: nós também nos identificamos, se tivermos a humildade suficiente para reconhecer, com Judas que trai seu amigo, com Pedro, que primeiro quis usar da força bruta, e depois negou seu amigo, tendo tudo lavado porém, pelas poderosas lágrimas de seu pranto amargo, que escorreram por seu rosto como uma enxurrada morro abaixo, carregando tudo o que encontrou pela frente. Nós somos as autoridades que condenam quem não conhecem, os soldados que, com o terrível chicote da língua, flagelam as pobres vítimas que tem a desgraça de não corresponder às nossas expectativas. Nós somos a multidão, que não só condena um inocente como faz questão de mostrar que prefere um bandido. Nós somos o espinho da indiferença, que faz correr rios de sangue e de lágrimas. Nós somos a cruz que esfola os ombros de quem tem que nos carregar. Sim, os espelhos estão por toda a parte!
É por isso que a história de Jesus nos fascina! Cada personagem tem o nosso rosto. Dentro de nós o inocente Jesus, o intrépido Pedro, a misericordiosa Verônica, a consoladora Maria, o fiel João convivem lado a lado com o traidor Judas, o negador Pedro, o omisso Pilatos, o cruel soldado, a ingrata multidão. Somos feitos de luz e sombra, de sofrimento e glória, de vida e morte. E, no Tríduo Pascal, tudo isso é colocado perante nossos olhos, tanto os do corpo quanto os da alma. E por isso somos fascinados. Quanta diferença entre aqueles personagens e nós! Eles na pobre Judéia de dois mil anos atrás, analfabetos, atrasados. Nós, rodeados da tecnologia do Terceiro Milênio. E, no entanto, quanta semelhança!
Mas talvez o maior fascínio esteja no fim. Na luz que não mata a sombra, mas a redime, na glória que não exclui o sofrimento mas o abraça e conforta, na vida que não destrói a morte, mas a salva. Sim, ali, no último capítulo, a História se clarifica, os inimigos se reconciliam, os opostos não só se atraem, como se casam e geram lindos filhos.
Nessa Páscoa não tenha medo de olhar nos olhos de cada personagem e ver ali o reflexo de teu próprio rosto. Reconheça todas as tuas contradições, que só podem ser lidas à luz do Círio Pascal. Na penumbra do Sábado Santo ouviremos a Igreja entoar: “Eis a luz de Cristo”. Que do fundo de nossas almas venha a resposta: “Demos graças a Deus!”
Texto encaminhado pelo Pe. Emílio Bortolini Neto, vigário da Paróquia Sta. Bárbara, de Bituruna.