18 de fevereiro de 2021
- Atualizado há 5 meses atrás
8 minutos de leitura
Por Redação 97
Fernando em uma das visitas a Comunidade Terapêutica
Hoje, 18 de fevereiro, é comemorado o Dia Nacional do Combate ao Alcoolismo, uma data, que para muitos é apenas mais uma no calendário, mas para outros, significa o renascimento de uma história, o recomeço de um novo parágrafo no livro da vida, como é caso de Fernando Diniz Pistolini, 37 anos, conhecido por muitos como “Miudinho”.
Devida a importância do tema nada melhor do que relatar a história de uma pessoa que já viveu os problemas que o alcoolismo desencadeia na vida de uma pessoa. É importante frisar que Fernando não conta sua história para as pessoas sentirem pena, mas para ajudar a conscientizar aqueles que estão passando por um momento como esse, compreender, entender e ver os sinais da dependência.
“Eu faço questão de contar a minha história, é bom as pessoas saberem o que aconteceu, o alcoolismo é uma doença que acaba com a vida pessoal e profissional da pessoa, e mesmo muitas pessoas alertando, quem vive isso no dia a dia, não consegue enxergar que está dependente da bebida”, disse. Ele contou que bebia socialmente, e foi aumentando a quantidade consumida sem perceber.
Formado em Técnico em Mecânica, Fernando chegou a ter empresa, dar aula, tinha família, uma vida estável, mas acabou tendo depressão, o que juntou com o álcool que se tornou cada dia mais recorrente, tanto, que muitas vezes para disfarçar, colocava vodka na garrafinha de água que levava para o trabalho, e para ajudar a disfarçar o cheiro, sempre tinha balas.
“Naquela época, cedinho eu já tinha que estar tomando minha vodka, se não tivesse, eu saia e ia comprar, não podia ficar sem”. Quando seu casamento acabou, a sua situação piorou, a bebida era seu refúgio. Já não cumpria com suas obrigações, não parava nos empregos, dificultando cada vez mais sua vida. “Eu já estava com aluguel atrasado, luz cortada, cheguei á pesar 57 quilos, estava parecendo um mendigo”, relembrou.
Miudinho como é popularmente conhecido, contou que não queria mais ficar em São Mateus do Sul, pois para ele, nada dava certo. Com isso se organizou para se mudar. “O que eu tinha vendi, o que não vendi eu bebi e o que não bebi eu doei”. Faltando uma semana para ir embora da cidade o pai de um amigo seu que o conhecia há anos o chamou pra conversar.
“Eu tinha vergonha de aparecer em casa, pois não tinha mais luz, nem água. Eu queria ir embora da cidade, eu estava fugindo de um problema que eu não tinha percebido que tinha”. O pai do amigo, primeiramente pediu se ele não iria ficar chateado ou magoado com o que iriam falar, e ele disse que não. “Ele me pediu se eu queria ajuda, e eu imaginei que era pra encontrar um emprego”, lembrou.
Ao iniciar a conversar e pedir se ele queria ajuda ele falou que sim. “Ele disse, quer ajuda pra tratar seu problema com o álcool? Nesse momento que percebi meu problema, caiu a ficha, comecei a chorar ele começou a chorar nos abraçamos”, relembrou. A partir daí, ele contou que aceitou ajuda e começou a “correria”.
Começou a busca de pessoas que pudessem dar uma ajuda, um tratamento, entre elas, a Prefeita Fernanda Sardanha e o Deputado Emerson Bacil, que estiveram empenhados em lhe auxiliar nesse momento, além de amigos e familiares. “Eu acabei enxergando a minha doença e felizmente, conseguiram uma vaga pra mim em um hospital de Ponta Grossa, onde fiquei 28 dias para fazer a desintoxicação. Cheguei lá com 57quilos, muito debilitado”, lembrou.
Ele relatou que o carro da Assistência Social, iria busca-lo na segunda-feira, na sua alta do hospital, mas o seu amigo Luiz, de surpresa apareceu no sábado para busca-lo. “Eu sabia que só poderia sair na segunda, fiquei muito feliz em saber em ter esse apoio”. Daquele momento, ele contou que ficou em uma pensão, já que sua casa não oferecia condições de morar, pois não tinha mais nada nela.
Nessa etapa, o tratamento não tinha sido concluído, era necessário continuar, foi aí, que Fernando foi conversar com Fernanda e disse que queria realmente continuar com o processo. “Conseguiram uma vaga em uma comunidade terapêutica, eu peguei as poucas coisas que tinha. Minha ex-mulher sempre esteve ao meu lado me apoiando, o seu Turibio me levava bolachas e frutas. Nesse momento sabemos quem são nossos amigos de verdade”, frisou.
A comunidade em que ficou próximo de São Mateus do Sul, fica na cidade de Canoinhas, é a Comunidade Terapêutica “Caminho do Sol” (ARAD). Ele relatou que lá deu continuidade ao tratamento e aprendeu questões relacionadas a religiosidade e a fé. “Você precisa se apegar em alguma coisa, você tem que acreditar em algo”, explicou.
Com medo de recaída, Fernando disse que não se via mais voltando a trabalhar na sua área de formação, mas ao mesmo tempo, soube de cursos voltados a recuperação de dependentes e outros relacionados a internamento, acolhimento e seu interesse nessa área foi crescendo, desencadeando a vontade de saber lidar com isso, e ajudar outras pessoas, com isso, realizou com apoio de familiares o curso.
Após um tempo, Miudinho começou a fazer a chamada reinserção social, onde o paciente fica um tempo na comunidade e outro tempo trabalhando, buscando a reintegração em meio a sociedade. Nesses trabalhos, encontrou um amigo que pediu seu currículo, pois queria lhe ajudar e em pouco tempo foi chamado em uma empresa, saindo da comunidade com uma vaga garantida.
“Sai da comunidade, com duas peças de roupas que foram doadas, dois pares de sapatos doados, um notebook e um celular quebrado. Aluguei um quarto no centro, e aos poucos tudo foi se ajeitando e fui conquistando meus objetivos”, relatou. Logo veio a pandemia e a empresa acabou dando férias os funcionários o que fez Miudinho focar em outra área, a fabricação de esfirras.
Mesmo voltando das férias, não parou com as esfirras, batalhando, correndo atrás, sempre focado. Hoje ele está começando uma nova etapa em sua vida no Rio Grande do Sul, voltando a atuar na área de manutenção industrial. “Eu passei por situações muito difíceis. Não tinha água em casa, torcia para chover para o balde encher e eu poder tomar banho, não tinha nem dez centavos. O vício fez eu deixar de honrar meus compromissos, mentir, vivia com bala na boca pra disfarçar o cheiro. Aos poucos vou colocando minha vida nos eixos”, disse.
Fernando finalizou contando que chegou a pensar em desistir da própria vida. “Se eu falar que não pensei em desistir estarei mentindo, é muito complicado, mas felizmente tive apoio de amigos, família e consegui enxergar o problema. A doença não vem sozinha, sempre está ligada a depressão, falta de autoestima, é importante que a pessoa veja o problema e queira sair dessa, não é fácil, mas sou grato a Deus e a todos que me ajudaram a hoje estar bem, contando minha história”, Concluiu.
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