Glenn Greenwald é denunciado pelo MPF por associação aos invasores de telefones de autoridades em 2019
22 de janeiro de 2020
- Atualizado há 5 meses atrás
7 minutos de leitura
Por Redação 97
Uma grande polêmica tomou conta das redes sociais e meios de
comunicação, nesta terça-feira (21/01), por conta de denúncia apresentada pelo
Ministério Público Federal (MPF) frente ao jornalista Glenn Greenwald, do site
The Intercept. Mesmo não tendo sido citado em relatório da Polícia Federal
(PF), o estadunidense está associado ao grupo investigado na operação Spoofing.
O fato de não ter sido investigado, a princípio, tem relação
com uma liminar do ministro Gilmar Mendes – Supremo Tribunal Federal (STF) de
2019. Nela foi determinado que Greenwald não fosse investigado na Spoofing. Ao
oferecer a denúncia, o MPF citou que o jornalista, apesar de não ter sido
investigado, teve contra si indícios nas apurações sobre os hackers.
Para o MPF há indicativo de “crime de associação
criminosa e crime de interceptação telefônica, informática ou telemática, sem
autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei”. No
entendimento da denúncia oferecida, Glenn teria auxiliado, orientado e incentivado
o grupo de hackers suspeito de ter invadir celulares de autoridades para
cometer delitos.
Sobre a investigação
O relatório da PF de dezembro de 2019, com base nos diálogos
investigados, cita que “não é possível identificar a participação moral e
material” do estadunidense. Pelas redes sociais, Glenn rebateu a denúncia dizendo
ser “expediente tosco”, citando a liminar em seu favor, concedida por
Gilmar Mendes. Para ele, o objetivo do MPF é “depreciar o trabalho
jornalístico realizado pelo Intercept”.
A operação Spoofing investiga invasões de celulares de
autoridades e o MPF publicou a íntegra de um diálogo entre Glenn e Luiz
Henrique Molição. De acordo com a investigação, a conversa ocorreu após a
imprensa publicar que o celular do ministro da Justiça, Sergio Moro, teria sido
invadido. O MPF relata que Molição ligou para Glenn, buscando orientação frente
aos arquivos das conversas interceptadas.
Isso, conforme a denúncia, seria indício de que o jornalista
“sabia que o grupo não havia encerrado a atividade criminosa e permanecia
realizando condutas de invasões de dispositivos informáticos e o monitoramento
ilegal de comunicações e buscou criar uma narrativa de ‘proteção à fonte’ que
incentivou a continuidade delitiva”. Com sugestão de que o hacker deveria
eliminar o material.
Apagar as mensagens seria a estratégia “de forma a não
ligá-los ao material ilícito, caracterizando clara conduta de participação no
delito, buscando subverter a ideia de proteção a fonte jornalística em uma
imunidade para orientação de criminosos”, conforme trecho divulgado pelo
MPF, contido na página 61 da denúncia oferecida. “Pra vocês, nós já
salvamos todos, nós já recebemos todos. Eu acho que não tem nenhum propósito,
nenhum motivo para vocês manter nada, entendeu?”.
A investigação lembra que o Intercept, em 2019, publicou conversas
atribuídas ao ex-juiz federal e procuradores da Operação Lava Jato. As
publicações supõem que Moro teve o papel de orientar ações e cobrar novas
operações. Isso seria ‘parcialidade’. Um dos investigados, o hacker Walter
Delgatti Neto, afirmou em depoimento ter repassado o conteúdo para Glenn
Greenwald.
Os denunciados pelo
MPF
Além dele e do jornalista, Thiago Eliezer Martins Santos, Danilo
Cristiano Marques, Gustavo Henrique Elias Santos, Luiz Henrique Molição e Suelen
Oliveira estão nesta denúncia, não sendo de imediato apontados como culpados. A
Justiça Federal, ainda, tem de analisar se há indícios de crimes cometidos e
determinar a abertura do processo. Somente havendo são absolvidos ou
condenados.
Esta denuncia foi distribuída ao juiz federal Ricardo Leite,
da 10ª Vara Federal de Brasília. Cabe ao magistrado, a partir do documento, receber
ou rejeitar as acusações contra cada um dos sete denunciados. Somente com a
aceitação se passa a ser réu nesse processo e pode ir a julgamento. Não há um
prazo definido para que isso ocorra.
Para o advogado de Walter Deltatti, Sulen Oliveira e Gustavo
Henrique Santos, a denúncia “tão somente confirma que as acusações que
recaem sobre meus clientes são de cunho político, desprovidas de qualquer
embasamento técnico”. O defensor menciona, ainda, que há desrespeito
frente a garantias constitucionais. O PT e políticos, também, saíram em defesa
do Glenn Greenwald.
Defesa e ataque, sob
os fatos
“A motivação é clara: vingar-se pelas reportagens que
denunciaram os crimes da Lava Jato e confirmaram a parcialidade de Sergio Moro
e seus procuradores, apontada ao Supremo Tribunal Federal pela defesa do
ex-presidente Lula”, cita trecho da nota do Partido dos Trabalhadores, se
solidarizando com o jornalista. A publicação cita vingança contra os
denunciados.
Há o indicativo, na mesma nota, de atribuir o rótulo de abuso
de autoridade e usurpação de competência, pelo fato da denúncia ter sido
oferecida pelo MPF. O entendimento se baseia no fato de que Gilmar Mendes havia
proibido a inclusão de Greenwald na investigação. Na justificativa da
publicação aparece, ainda, críticas à postura do atual governo de Jair
Bolsonaro.
“Glenn Greenwald foi o mandante das invasões ou apenas
coincidentemente o receptor do produto do crime? Independente disto é inegável
toda a trama canalha para prejudicar minha família, Moro e a Lava Jato”,
escreveu o deputado federal por São Paulo, Eduardo Bolsonaro. Já Jair Bolsonaro
até ironizou: “Não confia na justiça?”, disse o presidente da
República ao ser questionado sobre a denúncia.
Da redação com informações do MPF e fotos de Vinicius Loures/Câmara dos Deputados e Divulgação/MPF
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